14 junho, 2018

O OSSO DE GALINHA



Nesta época eu estava conhecendo melhor um garoto que eu estava muito afim de namorar. A gente se conhecia a mais de um ano, mas na ocasião tínhamos começado a flertar a pouquíssimo tempo. Ele parecia estar muito interessado em mim e eu estava interessado nele coisa e tal, tal e coisa. Pois bem, decidimos marcar de sair para um passeio à toa para jogar um papo fora e nos divertir. Em outras palavras, fomos fazer um rolê por Juiz de Fora.
O passeio foi ótimo. Comemos um mega pacote de batatas chips, bebemos e a hora voou. Conversamos muito e rimos bastante. Nada muito fora do que planejamos, até decidirmos voltar para as nossas casas.
De boas na madrugada, altas horas da matina, esperando o baú passar encontramos com Ana Paula no ponto de ônibus. Ana Paula era uma mulher negra, gorda, aparentemente de 30 a 40 anos e parecia ser uma cidadã em situação de rua. Com dificuldade, balbuciava alguma coisa e apontando para o pescoço gordo dizia que havia um osso de galinha entalado na garganta, o que estava lhe causando muita dor e ânsia de vômito.
Ela nos contou uma história de que estava voltando do HPS, um hospital público de Juiz de Fora. Sem documentos, pois segundo Ana Paula ela havia deixado tudo em casa, ela tentava ser atendida, mas não conseguia. Além do mais, para piorar sua situação, ela disse que desistiu do HPS, pois uma enfermeira dizia que ela “estava fazendo gracinha” e que Ana Paula não tinha nada, que ela estava mentindo. Por conta disso ela estava lá, no ponto de ônibus pedindo ajuda para ser atendida ou pelo ao menos conseguir voltar para casa.
Eu e o affair ficamos super preocupados, olhamos para a cara de desespero que ela fazia e já começamos dizendo quase em coro: “COMASSIM?!?!?! Não te deram atendimento?”. Naquele momento, Ana Paula começou a passar muito mal ao ponto de quase vomitar. Parecia que ia desmaiar e apoiou em cima de mim. Estava com fome e dizia que sentia muita dor no pescoço. Levamos ela para a portaria de um outro hospital que ficava ali em frente de onde estávamos. Levamos ela na Santa Casa de Misericórdia.
Então fomos lá, eu e o meu pretendente a namoro. Nós dois estávamos super preocupados, mas ele não podia ficar muito tempo lá comigo. Ele estava atrasado para poder voltar para casa da vovozinha dele. Na ocasião o rapaz que eu estava gostando era menor de idade, tinha 17 anos, prestes a completar 18 ainda. Por conta disso ele não pode ficar muito mais tempo comigo. Então ficamos eu e Ana Paula no pronto socorro. Ela sentada nos bancos da recepção e eu tentando resolver o pepino com a recepcionista.
Só que a Santa Casa é um hospital particular. Fui mesmo assim, pois sei que sendo privado ou não, o atendimento não pode ser negado e quem paga a conta depois é o SUS quando se trata de uma emergência. Entretanto não foi tão simples assim. Comecei a discutir na portaria para exigir o caralho do atendimento, pois estavam negando na cara dura. A recepcionista não chamava ninguém. Então liguei para o SAMU para pedir orientações. O SAMU reiterou: ANA PAULA TINHA QUE SER ATENDIDA E O SOCORRO NÃO PODIA SER NEGADO, SE O HOSPITAL NÃO ATENDESSE EU PODERIA CHAMAR A POLÍCIA. Foi o que disse a atendente do SAMU. Ao desligar o meu telefone, Ana Paula cai do banco onde ela estava sentada na recepção e fica desacordada.
Foi assim que o espírito de satã do barraco mico-leão-dourado 2017 incorporou em mim e disse no pronto socorro:
— SE ANA PAULA NÃO FOR ATENDIDA EU VOU CHAMAR A POLÍCIA POR CAUSA DESSA OMISSÃO DE SOCORRO — Caps Lock porque eu sou de afrontar.
Então um enfermeiro veio... e não fez porra nenhuma. Continuei o escândalo até o médico em plantão chegar. E o médico chegou. Exigi para ele verificar a pressão, os batimentos de Ana Paula e o caralho a quatro. O médico verificou. Tava tudo normal, mas Ana Paula estava desmaiada.
Eu e a classe média brasileira chocada daquele hospital particular "sem fins" lucrativos da Igreja Católica colocamos Ana Paula na cadeira de rodas. O médico disse que aparentemente estava tudo bem, mas se ela estiver com dificuldades de respirar ela precisa de uma endoscopia de urgência.
Então liguei para o SAMU de novo e pedi um carro para tirar ela de lá. O SAMU disse que não iria chamar o carro até o hospital, pois a Santa Casa tinha a obrigação de atender. Então o médico no pronto socorro disse: “aqui não tem como fazer endoscopia, não temos equipamento aqui para isso” — olha que filho da puta, pra cima de moi um hospital particular não ter equipamento? —. Então a endoscopia só poderia ser feita no HPS onde havia um gastro de plantão.
Com Ana Paula desfalecida, a coloquei numa cadeira de rodas rodas que briguei para a Santa Casa me emprestar. A levei ela até o HPS que fica logo em frente e de onde primeiramente ela saiu sem atendimento. Atravessei a Av. Rio Branco a noite, de madrugada, a empurrando e correndo com a cadeira de rodas para o HPS.
Chegando no HPS eu já estava pronto para fazer mais um barraco. Disse para a recepcionista que ela estava precisando de uma endoscopia de urgência, Ana Paula poderia estar com uma obstrução na laringe — ui, toda grey's anatomy eu!
A moça da recepção já começou a perguntar sobre outras coisa e de repente eu escuto...
— ANA PAAAAAAULA!!! O QUE É ISSO?!?!?!
Uma enfermeira lá de dentro gritou por Ana Paula. Ana Paula desfalecida e desmaiada nem tchum pra niguém. Ficou ali, como estava e sem escutar ninguém. Então aparece uma mulher baixinha, branca, de cabelos negros e lisos, com as duas mãos na cintura. Era a enfermeira que aparecera na portaria. Então a enfermeira vira pra mim e diz:
— Moço, você quem trouxe a Ana Paula?
— Sim! — Eu disse.
— HAHAHAHA, Ana Paula fugiu da psiquiatria daqui do HPS. Se preocupa não moço, ela finge isso aí mesmo. Ela diz que tem ossinho na garganta e às vezes até eplepsia. Não é nada nada, mas obrigado, moço.
Fiquei atônito. Eu tinha pegado uma cadeira de rodas emprestada do hospital, comprado um barraco monstruoso, chocado a já tão chocável classe média desse país que vivo e Ana Paula lá... de boas. dando uns rolê na cadeira de rodas, que por acaso eu estava empurrando.
Me senti trouxa, sim. Mas pelo menos paramos o trânsito pela avenida principal carregando uma louca na cadeira de rodas.
O final até que foi feliz. Ana Paula não só teve atendimento, como já era internada. Só que ao invés da gastrologia, mas ela foi parar na psiquiatria.

31 outubro, 2017

MEIO CLOSE

O meio gay.
Existe meio?
Existe o gay,
sem rodeio.

Trabalha, estuda.
Gay mais que produz.
Xingado, apanha.
Estômago de avestruz.

Negro, branco.
Homem, mulher.
Índio, asiático.
Tudo que se é.

Se é gay é promiscuo?
Caráter nada perspícuo?
Então, o mundo é gay.
Isso é muito conspícuo.

Ninguém se cumprimentava,
Se entre quatro paredes
Todos nós soubéssemos
O que vós todos fazerdes

Todos gritam veado
Todos gritam sapatão
Gritam indeterminado
Te digo o que as gays são:

Fabris
Operárias
Radicais
Agrárias

Terçadores
Emigrantes
Mamelucos
Estudantes
Recitantes

Bicha é:

mãe;
Pai;
filho...
...ai, ai!
Censurou!
Pois do pastor
está a mando.
Quando deveria
estar amando.

Então, meio gay?
Se é até o frei.
O que existe é:
o inteiro gay!

20 novembro, 2016

A BRAZILIAN GAY RELATED DRAMA



Large in extension, Brazil is a country blessed by God, without hurricanes, earthquakes and volcanoes. At school we Brazilian learn the biggest river of the world cross our lands. Also at school all Brazilian learn about the flag of the Brazil: the green represents our forestry country; the yellow means the gold of our land; the blue and the stars are the our beautiful and starry sky. Inside the middle is wrote "order and progress", but remember the order comes first. The authoritarianism always been present, selling our fauna, flora and minerals and controlling and changing our culture and habits. Here, the ruling ideology belong the dominant class. You must never forget about this in the Brazil. Today, our country have been governed by irregular president. Michel Temer took the government and dealt a coup on democracy. 

The Brazil is a country for strong people. The people needs to be able to abide the misery, the violence, the injustice, the work exploration and the hunger. Our country is the 7th country most wealthy of the world, but a legion of poor and miserable people lives here. The social inequality is high. Here we have to live on slums in the periphery or at some settlements in the countryside. We have bad habitational conditions and many have not water treatment and basic sanitation. For everybody is hard to live in Brazil, but now imagine a little thing: if were you gay, lesbian, bisexual or transsexual? How would you be treated?

I was born and grow up in Coronel Fabriciano, a little city in the country from whence I came. I came out early. My family knows about this subject since my 17 years old. I was too young when my friends and family knew about it. Today, I'm an adult. I have 24 years old, and the matter of the violence and the prejudice against LGBTQs is a mystery to me yet.

I never know if the cause of prejudice is by me or only by my sexual orientation. It is very unclear to me! All right, I have a strange way of to behave, sometimes weird, I confess. I am spontaneous and my jokes are often no sense. It happens! Who doesn't have an uncle like that? But, I believe the behavior of the others about me it is very heavy sometimes. It is like if they looked or talked as if I had some subliminal problem untranslatable that I do not understand the why or what problem I have. Have I a problem? I believe I haven't.

During a long time I believed the contrary. I believed that the problem was me. I just couldn't get friends during all my teenage years, when I couldn't more hide my few female gestures. And to make things worse, surprise... I had gynecomastia, a type of abnormal enlargement or enhancement of male breasts, due to hormone imbalance. The life is a funny grab bag... just not.

To live in Brazil as a gay can be tough. The Brazil is a extremely violent country against LGBTQs. The Brazil is the country where more kill LGBTQs on worldwide. In Brazil LGBTQs die as much as a radical islamic fundamentalists countries. The Brazilian people are very prejudiced, conservative and sexist. Abroad, the Brazil is known like a sexual freedom country, but this is not true. This is a myth! Here many women are violated and raped. Surveys show us every 11 minutes a woman is violated in Brazil.

LGBTQs in Brazil suffer a similar situation. When I was a teenager at school a gang of others boys kicked me and punched me almost every day. Once time they whipped me with ropes. My mother was scared when she saw my back. I had injuries from behind the neck to back. When I had 15 years old an old man raped me. All this histories today was weathered.

Coronel Fabriciano is located in the Steel Valley, an industrial region where produces steel to all Brazil and some countries abroad, including China and USA. It is a place very violent. On state of Minas Gerais, is the 4th most violent region. Only Minas Gerais as largest and so populous as France.  Homophobic attacks against LGBTQs are more violent. A friend of my ex-boyfriend had his head crushed with a concrete block, he died and the local media never talked about it. A transsexual known like Xuxa Preta has been arrested without no reason. She was accused of drugs traffic, but this never was proved.

Today I live on Juiz de Fora, in Minas Gerais. Juiz de Fora was known as the biggest gay city of Brazil, but today is São Paulo. In Juiz de Fora we have the "pink law", a LGBTQ protection law. Here nobody can disturbing anyone only by to be LGBTQ. Who disturb a people by sexual orientation can be fined in Juiz de Fora. Though, this law doesn't protect nobody by their gender identity.

If the Brazilian people needs to be able to abide the misery, the violence, the injustice, the work exploration and the hunger, LGBTQs need to be more able. Inside the middle of the Brazilian flag is wrote "order and progress", but remember the order comes first, I said in the beginning this text. My interpretation in Brazil is: the LGBTQs is the disorder, therefore we are perceived as regress. The ruling ideology doesn't accept us. We have terrible jobs at call centers or at an informal employment. When we found some good job, we have to be explored on maximum. The LGBTQs salaries is very low. We suffer the most perverse social question expressions.

I am not saying heterosexual people is more privileged. All of us suffer with the ruling burgeous ideology and with the social questions expressions, but LGBTQs are more underlined as well as black people (victim of racism) and women (victim of machismo). Many cross-class social movements brace the cause of minorities against oppressions. Inside these social movements are peoples from low, middle until high class. Doesn't matter where are these movements in the socio-occupational place in worldwide, they get advances on social and civil rights, but don't guarantee economic rights. It will only be possible advancements on economic rights, guaranteeing the human emancipation for all of us, when once the most significant part of the LGBTQs, black people and women grassroots movements do a linkage (political and organic) with the entities of working class.

You accept my apologies, I'm learning how to write in English language. But, I needed to talk about this to you and to world. Something here was very difficult to talk and write, but I hope you had understood me.

20 junho, 2015

PARA INÍCIO DE CADA DIA

Heis o mistério da vida:
Que ao dobrar de cada esquina
não importa o caminho que trilhe
seja quatro da tarde, ou três da matina.
Há mil almas que sofrem
para garantir para os cinco que dormem.
De cada mil, quarenta sobem ao céu
pra doze comerem mel
e ao resto sobrarem fel.
Calo nas mãos de quem há muito se calou.
Dos playboys meio pão pra quem já muito se humilhou.
A peste que rasga o couro.
Doença do ferro que se contagia
pelo brilho da prata e do ouro.
Acaba com a paz, a vida, a alegria.
Destino do poeta é incerto.
Para quem paga é acerto
retirado até o sangue de perto
por quem tá longe e dizendo o que é certo.

DA QUEDA ÀS REVOLTAS



2015 sem dúvida é um ano difícil para a classe trabalhadora. Muitos estudiosos acadêmicos acreditam em um retrocesso histórico nos direitos trabalhistas. Estes acadêmicos comparam a atual conjuntura ao cenário de luta por direitos que já tivemos há quase quarenta anos. Isso começou a ficar mais evidente há pouco tempo, mais precisamente com as eleições presidenciais de 2014. Nós brasileiros durante a disputa eleitoral assistimos um ligeiro despertar de uma classe reacionária e conservadora. Essa classe conservadora, que hoje mobiliza desde homens mais velhos aos jovens, travam um ataque sistemático e organizado aos direitos. Ataque que combina isso tudo a um processo de recriminação à pobreza e aos movimentos sociais. A leitura que se pode fazer é que estamos em uma séria crise política no país e entrando em uma crise econômica.

Há no Brasil uma perigosa afeição ao conservadorismo. Essa afeição tem colocado o trabalhador em um cenário de exploração cada vez mais feroz. Não é muito difícil associar isso ao fenômenos presentes no cenário econômico internacional. A China começa a perder o fôlego enquanto a crise acirra uma concorrência feroz. A obra “O capitalismo no século XXI” do economista Thomas Pikkety confirma: manter índices de crescimento elevados por muito tempo é impossível, tanto econômicos quanto demográficos. Além da desaceleração da China há os conflitos diretamente ligados ao petróleo no Oriente Médio. Organização majoritariamente comandada por países do Oriente Médio, a OPEP impulsionou uma superprodução na tentativa de desvalorizar o petróleo de xisto. Por causa dessa superprodução em junho de 2014, o setor petroleiro entrou em uma crise impactando inclusive os preços da produção brasileira, venezuelana e angolana. Não se pode ignorar a grande degradação que expressa as subcondições de vida e trabalho, como as que ainda hoje ocorrem na África. A crise nos escancara a disputa burguesa que tem balançado com as estruturas do capitalismo imperialista, mergulhando novamente trabalhadores nos antagonismos e nas contradições do sistema capitalista.

Toda vez que o capitalismo entra em uma de suas crises crônicas e cíclicas, para se manter como um sistema econômico relevante, ele deve se reformar. Hoje no Brasil o impacto dessas reformas acontece através de uma reestruturação com uma perspectiva de reduzir direitos trabalhistas, realizar cortes na educação, na saúde e nos serviços públicos de um modo geral. Essa reestruturação tem nos colocado na condição de retrocesso não só dos direitos trabalhistas, mas dos direitos sociais também. Há uma derrubada das barreiras que o capitalismo tem enfrentado até aqui, dessa maneira o capitalismo tem ganhado ainda mais espaço dentro do globo e colocado cada vez mais o Brasil em uma condição de subalternidade. Embora tenha acontecido muitas lutas, não somente no Brasil como mas em todo o globo também, essas lutas não nos tem garantido de modo efetivo a capacidade de reverter essa ofensiva do capital sobre o trabalho. Por mais que esse movimentos tenham nos dado novas perspectivas de luta, em contrapartida, o capitalismo está se munindo de ações cada vez mais predatórias sobre o trabalhador.

Assumindo uma posição gradualmente ortodoxa, o ministro da fazenda Joaquim Levy (doutorado pela Universidade de Chicago, uma das mais famosas escolas neoliberais do mundo) tem atendido as demandas internacionais do capitalismo imperialista. Gerido pelo Estado, o fundo público há tempos tinha como função garantir os benefícios da burguesia, além de permitir a manutenção do exército industrial de reserva. Hoje temos um agravante: o fundo público está voltado diretamente, de modo exclusivo, para garantir o processo de produção e dominação burguesa. A terceirização é o modo mais eficaz de fazer esse desvio dos fundos públicos de forma legal, passando o dinheiro público para o setor privado. A terceirização, entretanto, não é a única forma com que o Estado tem desempenhado essa função de desvio dos fundo público, em diversos setores por programas sociais, educacionais ou de cidadania de modo geral isso. Programas como o Fies ou o Prouni salvaram da inadimplência o setor privado de educação. Contraditoriamente, ao invés de se investir em educação, saúde, lazer, transporte dentre outros deveres estatais públicos, o Estado tem disponibilizado cada vez mais dinheiro público para aquilo que é privado. O Estado hoje desempenha um papel de sindicado burguês muito mais eficiente do que há tempos.

O capitalismo está definido hoje como uma verdade única. A queda do muro de Berlim foi decisiva para a formação dessa ideologia. Ainda que se tenha mais de 20 anos desde a queda do muro, este fato nos ajuda a entender como o mundo se desenvolveu e como a atual crise que estamos inseridos foi criada, bem como a crise de 2008 e as antecedentes.

Alan Greenspan (O ex-presidente do Federal Reserve, o “Banco Central” americano) desde a década de 1990 já havia alertado sobre o cassino que o mercado de ações havia se tornado. Mesmo assim, quando Greenspan foi presidente do Federal Reserve ele não tomou nenhuma atitude para impedir este mercado livre e descontrolado. Anos mais tarde, já com a crise instaurada ele assumiu o erro de acreditar que, inserido dentro de um cenário de livre concorrência e mercado, os interesses dos banqueiros trariam benefícios coletivos. Aqueles que acreditaram na mão invisível do marcado tiveram que assistir o estouro da bolha do mercado financeiro.

Isso só foi possível com o reaparecimento do liberalismo repaginado por Tacher e Reagan. Rebatizado de neoliberalismo, com o comunismo desestruturado expressado na queda do muro e sem um inimigo aparente o capitalismo pareceu ser inabalável até o fatídico 11 de setembro de 2001. O inimigo que antes era o comunismo, agora já não tem rosto e nem nome, apenas um sentimento: o terror. A primeira década dos anos 2000, os países centrais tiveram um giro de sua atenção para o norte da África e para o Oriente Médio. A indústria da guerra voltou a funcionar a todo vapor para atender os interesses do capital.

Com o estouro da bolha especulativa em 2008, o problema da bolha imobiliária que se instaurara em 2006 parecia ser um problema apenas dos Estados Unidos. A quebra do banco Lehman Brothers provou que não. Uma crise de confiança no sistema bancário estava estabelecida. Um efeito cascata começou a ameaçar outros bancos de quebrarem até chegar aos bancos mais tradicionais. O olho do furacão estava no coração do capitalismo mundial: a Wall Street. Os gastos com a guerra sobrecarregou os Governos e em 2010 chegou a Primavera Árabe.

O capitalismo não seria mais tão invencível quanto pensavam e processos revolucionários estouraram em todo norte da África e Oriente Médio e em parte da Europa Oriental. Presidentes e ditadores foram depostos. No Brasil a estabilidade do Banco Central nos protegeu no primeiro momento, mas a redução de vários impostos, o aumento de gastos do governo e escândalos de corrupção que abalaram a estrutura política do governo petista gerou uma crise nacional.

Junho de 2013 mostrou que a insatisfação internacional desembarcou no Brasil. Os manifestantes estavam descontentes com todo o sistema estabelecido, não apenas com o Governo que passou a enfrentar uma crise de popularidade a partir desse mês de Junho.

Tanto no Brasil quanto no mundo, a crise que vivemos é muito mais que política e econômica; é uma crise sistêmica. O socialismo está sem forças, enfraquecido desde a queda do muro de Berlim. O socialismo ainda resiste, fraco e quase calado, mas a tentativa de enterrar o socialismo ainda existe. Durante as manifestações reacionárias de 2015 pelo Brasil levantavam placas em que diziam “Fora professores marxistas!”, entretanto vale lembrar com um velho ditado: “cão morto não se chuta”. O que acontecerá nos próximos anos é ainda muito incerto e obscuro, mas o que tudo indica é: o espectro do comunismo voltou a rondar. Provavelmente veremos muitas reformas, mas não dá para ignorar que existe uma revolta à esquerda e à direita. Uma guerra ideológica parece já declarada nas redes socais, mas será que ela está apenas nas redes sociais? Acredito que não.




Foto: Hamad I Mohammed/Reuters

15 março, 2015

FRASES PEQUENAS

Amor
mor.
Nosso ninho:
carinho.
Meu amor
à caminho.
Frase
curta.
Peito
surta.
Paixão cura
dor que murmura.

Alegria?
Concreta.
Vida?
Nada reta.
Medo?
Sim.
Coragem querer?
Você pra mim.

15 fevereiro, 2015

DESAPEGAR PARA AMAR


Desapego é algo essencial para a vida, mas não devemos confundir o desapego com o descaso. Amar, em todas as suas várias formas, é um querer involuntário da felicidade e bem estar do outro. É querer de que o outro sempre fique bem. Paixão é uma síntese do encanto, de origem metafísica, ela é percepção à flor da pele.

O desapego não é estar longe, muito menos demonstra frieza. É algo natural do amor genuíno, que apesar de ser diferentemente do amor romântico também é quente, vivo e intenso, mas nunca fez ninguém sofrer. O amor romântico se confunde as vezes com a paixão, sentimento causado pela percepção do abstrato. Percepções abstratas que são as mais variadas formas de amor, livre das coisas materiais e físicas. Paixão é um encanto que perpassa por uma percepção transcendente, que sai da alma para o corpo. Essa percepção transcendente é diferente das percepções dos ouvidos, olhos, nariz, língua e pele. Não é provocada por frequências de som, luz, moléculas olfativas e degustativas ou textura. É provocada pela alma.

Ao contrário dos sentidos como o paladar, olfato, tato, audição e visão, que são percepções do meio material e físico para a alma, a paixão percorre o caminho reverso da percepção física. A paixão é um sentimento da alma para o corpo. Do imaterial, para o material; do espiritual para o físico; do abstrato para o concreto. Toda essa sensação é provocada por um impulso que acontece quando o amor surge na alma, que transborda todo tipo de sensação para o corpo.

O amor romântico é diferente da paixão e do amor genuíno, ele não existe sem o toque, sem o cheiro, sem ver, ouvir ou degustar. Tanto é que se não houver presença, dará a sensação de que não há amor. Tem que haver um envolvimento obrigatório com aquilo que é físico e material. Isso porque o amor romântico é um anseio, um amor por aquilo que está na frente, que se projeta, aquilo que se espera. E pelo fato de ser um anseio é impossível dissociá-lo do apego por estar ligado a um querer que vem do íntimo. Quando um anseio de algo que seria bom não acontece, não se concretiza, o apego causa frustração, sofrimento e tristeza.

O amor genuíno é como fazer fogo com gravetos e palha, exige sutileza e leveza na hora de assoprar a faísca para nutrir, deixando as coisas fluírem, dessa forma surge o fogo. Soprar com força no anseio do fogo é como não soprar, apaga a faísca. Portanto não é a força. Quanto mais força nos agarramos ao outro outro mais sofremos, e ainda mais, o amor genuíno se afasta. Isso é muito difícil de compreender. Ainda mais se acreditarmos que quanto mais agarrarmos à alguém, mais isso demonstrará que se importa com este alguém. Isso é apenas tentar prender algo, por um medo de que se não for assim, é que de fato acabará se machucando e se ferindo. Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro o agarrando, será um relacionamento complicado e repleto de ciúmes.

Por isso desapego faz parte de cuidar, pois não jogará culpa no outro de algo que ele na verdade não tem ou não é. Idealmente as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas, e ficarem juntas apenas para apreciar isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar que não se tem sozinho.




Ilustração: Raony Almeida Ribeiro

11 fevereiro, 2015

POR CAUSA DE UMA BRINCADEIRA, GUARDA MUNICIPAL PROÍBE MORADORA DE RUA DE ALMOÇAR EM RESTAURANTE POPULAR.



Nesta última terça-feira, dia 10 de fevereiro, minha irmã e eu fomos almoçar no restaurante popular de Juiz de Fora localizado no centro. Enquanto aguardávamos na fila, vários moradores de rua se divertiam com uma piada interna onde diziam, em tom alto de voz, a frase "o que é isso?". A algazarra causava certo desconforto em alguns. Um guarda municipal apareceu e diante daquela situação mandou uma moradora de rua, que estava entre os tantos que brincavam, para calar a boca. Ela ficou furiosa. Disse para o guarda que poderia pedir para que fizesse silêncio, e não que mandasse ela calar a boca. Os dois começaram uma discussão, e por fim ela chamou guarda municipal de "smurf" (referência ao uniforme azul do guarda) e de gay. O guarda neste instante proibiu a moradora de rua de almoçar.

O almoço no restaurante popular de Juiz de Fora é cedido pela prefeitura por R$ 2,00 a bandeja, mas há um programa social que oferece gratuitamente refeições à moradores, desde que sejam inscritos neste programa. A moradora de rua, reclamando a todo instante da postura do guarda com os colegas, até tentou entrar no restaurante. Ela encarou a fila enorme na esperança da refeição. Esforço em vão! Como é mostrado no vídeo, o guarda municipal com o reforço de mais um segurança do local, conseguiu proibir que a moradora de rua nem passasse pela catraca. A partir do vídeo a garota simplesmente deixa o restaurante sozinha e aos gritos.


Quando decidi postar isso aqui, acredito que já sabia o que provavelmente poderiam pensar a respeito desta situação: de que o guarda municipal agiu certo, afinal ela poderia ter ficado na fila quietinha, e se o guarda pediu para calar a boca, que ela ficasse calada, pelo ao menos não perderia o almoço. Isso não faz nenhum sentido!

Com toda a certeza que tenho neste mundo, se fosse comigo, se ao invés de mendigos falando alto e fosse eu e uns amigos, o guarda com certeza nos abordaria de um jeito bem diferente. E mesmo que ele nos mandasse calar a boca, da mesma forma que fez com a garota, talvez não reagiríamos da mesma forma, o que não entra em questão, pois isso depende da formação de cada um. E eu pergunto, como será que foi a formação dessa moradora de rua? Certamente que ela não teve nenhum apoio educacional.

Esse texto retrata não apenas como as autoridades tratam os diferentes segmentos da sociedade. Retrata também como funcionam os direitos em nossa civilização. Muita gente confunde direitos com benefícios, que direitos só devem ser concedidos após o cumprimento de um dever. Mentira! Direito é direito conquistado, não é um simples benefício. Para entendermos a gravidade da situação, talvez para essa garota este almoço seria a única refeição do dia! Ter acesso à alimentação adequada e de qualidade não deveria ser nenhum benefício, e sim direito. A fome não deveria ser resultado de um dever não cumprido, isso favorece a exploração e vai contra os direitos humanos, pois fere a dignidade humana. Esta moradora de rua tinha o direito de receber a alimentação que lhe foi designada pela prefeitura, direito que lhe foi negado. A fome certamente não era a realidade do guarda, e nem a minha. O guarda poderia sim ter usado um mínimo de bom senso, bastava ser um pouco mais diplomático. Parece que a miséria só importa para muitos quando ela bate na porta e que miseráveis devem se manter calados e domesticados, e qualquer revolta é considerada apenas um vitimismo sem causa. O guarda errou. Se estava em um péssimo dia e por isso agiu assim eu não sei. Só sei que impor uma autoridade sem necessidade é um tipo de violência que não resolve nenhum problema. Fim! (e desejo que não seja apenas neste texto)




Foto/Vídeo: Raony Almeida Ribeiro